Mensagens

Desafio 5 — “A Carta Que Não Enviei”

Escreve uma carta a alguém (real ou fictício), mas uma carta que nunca chegaste a enviar — por medo, vergonha, amor, orgulho ou qualquer outra razão. Pode ser: ·   a alguém do passado; ·   a alguém do presente; ·   a ti próprio; ·   a um lugar; ·   a uma fase da tua vida; ·   ou até a algo abstrato. O objetivo é trabalhar: ·   introspeção profunda, ·   subtexto emocional, ·   voz íntima, ·   e a tensão entre o que se diz e o que se esconde. Limite: 400 palavras. Tom livre: realista, poético, metafórico ou híbrido. Ainda se escrevem cartas? Imagino o teu revirar de olhos. A deitar a carta na lareira ou   no caixote do lixo mais próximo, sem abrir. Palavras ficaram por dizer. Minhas e tuas. Vejo o teu ar de enfado. E, ainda assim, não sei bem por onde começar. Consigo vislumbrar o teu abanar de cabeça, o contrair de corpo. Previsível, nesse teatro tão teu. A etiqueta exige que pergunte por ti. Essa linha,...

Desafio 4 — “Duas camadas”

  Escreve um texto com 130–170 palavras em que existam duas camadas simultâneas : o que a personagem pensa/diz a si própria (superfície); o que a personagem realmente sente (subtexto), nunca nomeado . Regras 1.ª pessoa (para maximizar fricção entre discurso interno e corpo). Proibido nomear a emoção real (ex.: “medo”, “ciúme”, “culpa”…). Inclui pelo menos um gesto físico involuntário que contrarie o que é dito/pensado. Inclui um objeto-âncora (ex.: copo partido, botão desapertado, mensagem lida) que revele a segunda camada. Evita explicações psicológicas; deixa o corpo, o tempo e o espaço falarem. “Solto uns arrastados bons dias. Sento-me ao computador entre acenos e sorrisos, ancorado pela segurança da cadeira. Mordo o lábio por puro reflexo, sem sentir a tremura na voz. Silencio o meu pulsar. Ao café, digo uma ou outra piada. A chávena separa-se do pires e estilhaça-se. O som seco interrompe o silêncio. Gracejo com a minha destreza, ou falta dela......

Desafio 3 - Ruptura Interior

  Escrever um texto curto (máximo 160 palavras ) onde a estrutura — as pausas, quebras, fragmentos — revele o estado emocional da personagem. 🩸 Tema: ruptura interior Pode ser o instante em que algo se parte — um vínculo, uma crença, uma identidade, uma esperança. Não é preciso contar o antes nem o depois, apenas o momento da fissura . Podes escolher livremente o contexto (amor, morte, fé, memória, medo…), mas quero sentir a quebra — como se o texto também se partisse por dentro.   Naquele momento, o céu chora. O vento grita. Pingos ferem as ruas. Um último pulsar. Uma lágrima. Dor surda. A dela. A minha. O mundo fecha-se. O ar pesa. Nada se move. Quero saber para onde vais. Quero acreditar que voltas. Que te toco. Que te cheiro. Corpo rasgado. Alma quebrada. Uma face que escorre. Um corpo que treme. A tua dor. Tornada minha. Quero-te.

Desafio 2 - “Natureza, disse ele”

  Desafio 2 — O Espaço Que Respira Enunciado: Escreve um texto (até 350 palavras) onde o cenário não é apenas o pano de fundo, mas um protagonista subtil. Pode ser uma cidade, uma casa, um quarto, uma praia — o lugar deve ter “vontade própria” e moldar a história, ou mesmo o destino da personagem. Objetivo técnico: Explorar a personificação do espaço e usá-lo como força narrativa. O lugar deve ter impacto emocional ou simbólico, como se fosse um espelho da personagem — ou o seu contrário.   “Natureza, disse ele” Os primeiros raios de sol ainda mal tinham beijado os ramos e folhas das árvores. E nós já na estrada. Era sempre assim… A minha mãe ao volante. Os momentos de troça e de divertimento. A constante lamúria do meu pai em tons de graça. O humor, esse, só resultava porque ela lhe dava resposta. Hoje, adulto, recordo o meu pai num misto de afeto e curiosidade. Ele não dormia no carro, a menos que fosse a minha mãe a conduzir. Vejo-me a sorrir. A pequena casa de ...

Desafio 1 – “O Retorno”:

    Desafio 1 – “O Retorno”: Escreve um texto, poema ou pequeno conto, onde a personagem principal (podes ser tu, podes ser outra pessoa) volta a encontrar a sua antiga paixão ou talento (pode ser a escrita, mas pode ser outra coisa). Conta como foi esse reencontro — que sentimentos despertou, que obstáculos teve de ultrapassar, que mudança gerou na sua vida. Pode ter um tom realista, poético, até metafórico. Limite: 500 palavras.   O gira-disco encanta com o dancing in the dark de Diana Krall. Uma chávena de chá preto numa mão. As “Vinhas da Ira”, de John Steinbeck, na outra. Maria desloca-se em pequenos passos, com articulações que se queixam.   Na lareira crepita um fogo tímido. Fica ali, imóvel por momentos, com a distância cansada de um olhar rendido. Janelas abertas. Um sol que começa nas despedidas.  A brisa refrescante alimenta a metamorfose da tarde em noite.  O fim de Outono em puro esplendor. Lá fora, as cores adocicadas das folhas que c...

“Quando a vida não te pertence – Kate Miller (Texto 35 de 35)

Há pessoas transparentes, perfeitos livros abertos que a muito custo conseguem esconder um momento de simples desagrado ou um triunfo, por mínimo que seja, Vera Nunes e Cunha não era uma dessas pessoas. Duarte recorda-se da primeira vez que a viu, no velório e depois disso, quando a voltou a ver à porta do prédio de Rodrigo, ainda nesse mesmo dia. Uma primeira Vera que oferecia uma segurança que não parecia ter e uma segunda Vera desorientada, frágil e perturbada. A realidade caiu sobre ele pela certeza e consciência que a verdadeira Vera será pouco mais do que uma perigosa vendedora de ilusões que o terá muito provavelmente conseguido ludibriar até ao arrancar da viatura.   Duarte corre como se a sua própria vida disso dependesse e segue em direção ao seu carro, entra, senta-se e arranca a grande velocidade em direção a casa, onde o seu lugar de estacionamento permanece vago. Avança apressadamente e corre pelas escadas acima, entra, agarra nas chaves suplentes da casa de Rod...

“Quando a vida não te pertence – Da cumplicidade ao amor, da união à separação, Parte III” (Texto 34 de 35)

- Eu sei que parece pessoal, mas o que é que correu mal na vossa relação? - Parece-lhe pessoal? - Ironia a esta hora não fica bem Vera. - Não consegui aguentar a carga negativa que o acompanhava numa base diária. Se inicialmente havia a empatia, a atração sexual e a cumplicidade de ser a única pessoa neste mundo a estar no mesmo barco e estarmos ambos tão sozinhos… Uma lagrima escorre-lhe pelo rosto. - Depois senti que me estava a levar com ele para o fundo do poço e tentei, mas deixei de conseguir. Tínhamos planos para fugir juntos, mas não é fácil chegar a uma verba que nos permita ir para onde a liberdade não será tirada e será que quero andar constantemente a fugir e longe do meu país? Duarte, não quero. - Se eu conseguir arranjar-te um acordo que te dê essa liberdade? - Duarte, é tudo o que mais quero, livrar-me deste pesadelo. Ela mostra-se relutante apesar do que acabou de afirmar. - Algum problema? Saca um telemóvel do bolso do casaco. - Toma, é o telemóv...